O AMOR QUE SE IMAGINA

O amor que se imagina

      A busca de uma relação amorosa ideal costuma consumir muita energia.
      Tem-se a ideia de que é impossível ser feliz sem fazer parte de um casal afetivamente ligado.
      Com base nessa premissa, encontrar uma pessoa considerada especial converte-se em uma necessidade premente.
      O amor deveria ser fonte de felicidade e plenitude.
      Contudo, em se tratando do denominado amor romântico, isso nem sempre se dá.
      Uma parcela considerável dos casais manifesta tristeza ou enfado com a relação em que se encontra.
      De outro lado, quem está sozinho se exaspera com semelhante estado de coisas.
      Ocorre que os vínculos que se estabelecem entre os seres podem ser de duas ordens.
      A primeira e mais banal, origina-se da atração física.
      Quem se deixa levar por ela não raro se arrepende.
      Estabelecer vínculo com base em aparência equivale a comprar um produto apenas porque está bem embalado.
      Sem maiores indagações quanto ao seu conteúdo e utilidade, a decepção é quase certa.
      A atração física, como móvel exclusivo do desejo de união, sempre é um tanto temerária.
      Ela engendra contínuas decepções, seja ou não correspondida.
      Muitas vezes, alguém afirma amar perdidamente.
      Imagina que nunca será feliz sem o ser amado e se tortura pela indiferença com que seu afeto é recebido.
      Entretanto, esse amor imaginado provavelmente não resistiria ao convívio.
      Porque não se efetiva o conúbio, o outro parece possuir todas as qualidades.
      Assume uma imagem ideal, na medida de sua inacessibilidade.
      Contudo, se o desejo encontra receptividade, começa o teste das dificuldades do dia a dia.
      Na convivência íntima, muitas vezes o sonho converte-se em pesadelo.
      À míngua de real afinidade, as diferenças transformam-se em abismos.
      Ocorre algo semelhante a quando se vê em uma loja um lindo móvel ou uma bela peça de decoração.
      Malgrado a aparência sedutora, aquele bem não se harmoniza com a decoração da residência de quem o cobiça.
      Caso a aquisição se efetive, em vez de algo útil e confortável, tem-se um problema.
      Não porque haja alguma coisa errada com o bem em si.
      Ele simplesmente não combina com o local onde é colocado.
      Já as relações oriundas da afinidade entre almas trazem em si a promessa de felicidade.
      Transcendem os problemas comuns da vida e mesmo se fortalecem com eles.
      Não se fundam em aparências, mas em valores partilhados e projetos de vida em comum.
      Talvez não ensejem violentos desejos e nem torturantes indagações.
      Mas se embasam em afeto, ternura e respeito e amadurecem ao sol da experiência.
      Pense nisso.
       
                              Redação do Momento Espírita, com base no item 939 de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. Feb.

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